home | sotmb | vy.com.br


sexta-feira, 8 de novembro de 2013 at 11:43
1 comments
o poder dos quietos



Passei uma vida achando que era estranha, diferente e que deveria mudar isto. A sociedade praticamente gritava comigo pra que eu fosse diferente, todo dia. Não existiam exemplos de outras pessoas como eu a minha volta. Eu só podia achar que havia algo de errado comigo.

Eu e meu irmão sempre fomos o caçula em famílias de primos muito mais velhos. No máximo, tínhamos primos de segundo grau mais novos. Nunca da nossa idade. Eu nasci num mundo adulto. E por isso, não aprendi desde pequena, como muitos, a me relacionar com outras crianças. Elas pareciam intrusas no meu mundo, onde as atenções eram minhas e do meu irmão só. Aos 3 anos de idade, fui mandada pra escola. Sozinha. Imagina o TRAUMA de ser ABANDONADA na escola todo o dia, vendo meus pais e meu irmão indo embora, pra enfrentar aquele mar de criança remelenta e barulhenta, sozinha?

Eu nunca superei. Cada primeiro dia em uma escola nova era um novo trauma. A expectativa de ter que passar aquele stress todo de novo era o suficiente pra eu passar mal. Invariavelmente isso se traduzia em lágrimas e muito, muito choro.

Por um lado foi bom ter estudado a maior parte do tempo numa escola só, por mais que eu odiasse o método dela. E claro, obviamente superei um pouco o trauma de um novo ambiente (é, eu não choro mais nem tento me esconder debaixo de uma rocha pra ninguém me achar). Mas sempre tive que enfrentar a síndrome dos primeiros meses de emprego novo: são uns 2 meses que eu odeio o emprego novo, do lugar às pessoas, até começar a achar aquilo tudo comum. Não sei se jamais me sinto confortável em um novo ambiente, mas o ódio e a vontade de pedir demissão todo dia quando acordo passam.

Ai dia desses me deparei com o livro “O poder dos quietos” na Play Store e comecei a ler um trecho.
Em resumo, podemos dizer que o livro trata de introversão, mostrando como tantas personalidades da ciência e tecnologia eram e são introvertidos, como as características da introversão podem ser benéficas para a humanidade e como tirar melhor proveito disso.

O que me encantou nesse livro é descobrir que não há nada de errado em ser como sou. Como introvertidos não tendem a falar muito, principalmente de si mesmos, a sociedade de uma forma geral não tem como saber como somos. Nós, os introvertidos, sabemos, e bem, mas não achamos vozes parecidas no meio de uma multidão de extrovertidos que gritam, muitas vezes, coisas sem muita importância. Ter um livro que me descreve tão bem, dizendo que existem outras pessoas assim, e melhor, que a introversão pode ser uma qualidade, é de “chorar no cantinho de bom”.

O livro fala de características fisiológicas, de contextos culturais através da história, de características de temperamento e personalidade, mas sem ser muito técnico. É o suficiente para um leigo começar a entender alguns conceitos e acompanhar o restante do livro, que é construído numa crescente, sempre acrescentando informações em cima do que já foi dito, o que o deixa bem didático.

Começando do começo, ela explica que os introvertidos e extrovertidos têm uma relação diferente com o mundo. É como se os extrovertidos tivessem uma coberta mais grossa, um escudo mais resistente, e poucas coisas os atingissem. Eles precisam de mais estímulos do mundo para serem atingidos. Já os introvertidos tem uma cobertinha fininha, que sente todo o frio que o mundo manda. São atingidos mais facilmente por qualquer estimulo, e isso os afeta muito. Os introvertidos, embora não transpareçam, são mais sensíveis aos estímulos do mundo. E isso não só de uma perspectiva psicológica dos tipos, mas isso também ocorre fisiologicamente, a amígdala reage mais fortemente nos introvertidos do que nos extrovertidos.
Isso explica muita coisa que eu sempre senti e nunca entendi. As vezes achava que eu era exagerada. Ou fraquinha, que todo mundo devia passar por isso e que só eu me sentia profundamente afetada por essa super atividade.

O livro também fala que timidez e introversão não são a mesma coisa, embora ache que nesse campo ele tenha deixado a desejar em termos de explicações. Eu sei que não são a mesma coisa, embora estejam ligadas. O que eu posso supor é que haja uma maior incidência de timidez em introvertidos por fatores culturais e externos, porque vivemos num mundo onde nos sentimos diferentes e esse sentimento de diferença não explicado gera ansiedade e para alguns a saída é a retração, a timidez. Mas ai é uma suposição minha, o livro não mergulha nesse assunto, mas teria sido bastante útil se o fizesse e explicasse como contornar essa situação (talvez eu precise de um livro de auto ajuda focado nesse assunto, e não na introversão).

Alias, a introversão não é só um mar de stress. A introversão é também uma preferência por profundidade nos assuntos. Introvertidos gostam de mergulhar nas coisas, não estão interessados em superficialidade. Mas como seres humanos, temos uma limitação do que podemos aprender, e ter muitos estímulos cria a ansiedade de não conseguir dominar tudo. Porém, introvertidos gostam de se aprofundar nas coisas, de mergulhar naquilo que os interessa, de ter a satisfação pessoal de dominar um assunto. São os introvertidos as pessoas mais propensas a fazer descobertas cientificas. Introvertidos são observadores, pois vivem em suas cabeças, não são agentes na sociedade, introvertidos absorvem o mundo ao seu redor.

Os introvertidos precisam de calma para poder se concentrar, e tempo, para poder analisar. Uma das fraquezas dos introvertidos é a incapacidade de tomarem decisões urgentes, por exemplo. Extrovertidos tomam mais riscos e com isso, conseguem tomar decisões com informações incompletas. Extrovertidos se preocupam menos se é a melhor decisão, eles estão a procura de uma solução. Já os introvertidos tendem a debater longa e internamente sobre cada ponto do processo decisório.

O livro é bastante voltado ao mundo dos negócios e como gerir pessoas assim. O livro não busca por uma mudança de comportamento, mas por um ajuste das realidades. Toda empresa pode se beneficiar de ambos os temperamentos e por isso é importante entender as necessidades de cada um. Forçar um temperamento a ser diferente não melhora a performance do funcionário, muito pelo contrário. Inclusive, ambos tendem a trabalhar muito bem, quando entendem quais seus papéis na equipe e como cada um trabalha melhor. Extrovertidos tem energia para demandarem e tomarem decisões e introvertidos são bons em focarem num trabalho especifico e detalhado. Introvertidos estão abertos a ouvirem os outros e extrovertidos são mais pró ativos, não precisam que lhe mandem fazer as coisas, eles tomam as rédeas da situação.

Acho que na vida fora do trabalho também podemos aplicar algumas das ideias do livro, para aprendermos a lidar com nossos amigos e família. E também entender o que funciona melhor para cada um de nós dentro dos nossos relacionamentos. Muitas vezes não entendemos o outro lado por julgarmos através do nosso próprio olhar, mas entender que não passamos pelos mesmos processos nos faz entender o porque de cada ação.

that would be me. bye!

about the girl

Pode me chamar de Vy. Balzaquiana com cara de universitária. Turismóloga de formação. Rodinha não só nos pés, mas no coração também. Introvertida. Blogueira old school.

good reads

@ nati n.
@ nicas
@ lari
@ fernanda n.
@ paula b.
@ maria t.
@ gesiane
@ thais h.
@ aline a.
@ chat-feminino
@ viviane
@ lorraine

the past



extras

splash! of colour