home | sotmb | vy.com.br


quinta-feira, 6 de outubro de 2016 at 17:23
2 comments
A vitória silenciosa dos introvertidos

Se eu tivesse criatividade e dons artísticos, eu poderia ser a dona da Introvert Doodles <3

Depois de um século da dominância da extroversão, finalmente a introversão está saindo do armário e tomando os holofotes.

Em um mundo que celebra aqueles que gostam de fazer o jogo social, sempre foi muito difícil aceitar que algumas pessoas sequer se interessam por isso. Não ser apto a socializar é visto como um grave defeito que deve ser remediado.

Mas graças a era da informação, este cenário está em profunda mudança. Com a possibilidade de difundir conhecimento sem a necessidade da interação cara a cara,autores e entusiastas agora conseguem disseminar a própria existência da introversão, suas definições, e conseguem se fazer vistas, mostrando que isso não é algo raro ou ruim.

A definição mais básica e mais aceita do que é um introvertido e aquela que explica que para se energizar a pessoa necessita de um tempo sozinha, tendo seu oposto na extroversão, que é quando a pessoa precisa de interações sociais para se sentir revigorado.

A introversão são os extremos de um espectro de possibilidades, inclusive aquela em que uma pessoa pode transitar entre as duas coisas.


Um livro que me ajudou muito na minha descoberta e definitiva saída do armário foi "O poder dos quietos", da Susan Cain. Nele ela ainda vai mais longe, citando algumas pesquisas que sugerem que os cérebros de introvertidos e extrovertidos funcionem diferente. Para os introvertidos haveria uma sensibilidade maior aos estímulos externos na amígdala e por isso os introvertidos prefiram ambientes calmos, quietos e com poucas pessoas. Um outro estudo aponta que diferentes pessoas desenvolvem diferentes partes do cérebro ligadas a cognição, o que indica que algumas pessoas processam informações por caminhos mais complexos.

A introversão e a extroversão não são escolhas, elas nascem conosco. Tampouco são fardos genéticos, afinal pais introvertidos tem filhos extrovertidos e vice versa.

Por causa da pressão cultural, os introvertidos se sentiram culpados por muito tempo. Com a revolução industrial, as famílias deixaram suas pequenas comunidades e passaram a viver em espaços menores com mais pessoas e então se tornou importante conseguir criar novas conexões com estranhos. E com o surgimento de outras atividades econômicas que exigiam um relacionamento com um número cada vez maior de pessoas de uma população crescente houve uma valorização das pessoas que conseguiam fazer isso. E logo as pessoas que não eram capazes de se encaixar nesse modelo de sucesso começaram a serem mal vistas.

A capacidade de se focar em um determinado trabalho e se concentrar em análises de dados sempre foram importantes para o avanço da humanidade. A filosofia surge de observações e contemplações e em cima dessas sementes é que as outras ciências puderam se desenvolver. Essa concentração e esse foco também são fundamentais para a criação de obras de arte, plásticas ou outras formas mais modernas, e claro, a escrita.

Agora vivemos uma era de super conexão, hiperbolizada pela tecnologia, mas que ao mesmo tempo nos permite nos afastar disso quando quisermos. É assim que eu vejo a ascensão dos introvertidos. Agora temos a possibilidade de nos relacionar com o mundo nos nossos próprios termos.

Os introvertidos não são antisociais. O que não gostam é de ter que fazer um jogo que os desgasta e não acrescenta nada as suas vidas. Os introvertidos não gostam de jogar conversa fora, porque essa interação os desgasta. As conversas devem ter conteúdo e servirem um propósito maior aos seus interlocutores, não só para preencher um silêncio.

Introvertidos também gostam de ponderar seus pensamentos antes de compartilharem eles com o mundo, e é difícil fazer isso sem preparo, sem tempo e de surpresa. É por isso que gostam de interagir pelo texto escrito, quando tem tempo para se dedicar ao assunto que estiver tratando com a devida atenção.

O silêncio do introvertido é uma demonstração de interesse pelo interlocutor e consideração pelo que o outro tem a dizer, mas também para formular respostas atenciosas e respeitosas ao que é dito.


Como são muito sensíveis  aos estímulos externos e prezam a profundidade das discussões,  introvertidos não se sentem confortáveis em grandes grupos, principalmente com desconhecidos com quem terão que gastar suas energias com "papo furado" para atender normas sociais que não condizem com suas necessidades.

Os introvertidos prezam pela qualidade de seus relacionamentos e acham muito difícil dar atenção para estímulos demasiados, então preferem ter poucos amigos que entendam suas necessidades e aceitem suas idiossincrasias do que se sentirem culpados por não atenderem às expectativas de um grande e diverso grupo de pessoas.

Também prezam muito pelos seus momentos de solidão para recarregar suas energias e se dedicar sem interrupção aos seus interesses.

Eu cresci achando que havia algo de errado com o jeito que eu me sentia em relação ao mundo e que deveria ser "curada". A sociedade me fez acreditar que não era certo ser do meu jeito e que para ter sucesso no jogo da vida eu deveria seguir uma receita que não tem nada a ver comigo. Eu só comecei a ente o que eu era e aceitar o meu jeito como algo normal quando encontrei o livro da Susan Cain e passei a ler mais sobre introversão. E é sim muito mais fácil enfrentar os obstáculos da vida quando você entende com que armas está lutando.

Fiz muitos testes de personalidade online, todos dizem que sou introvertida e um deles, em dada época, de como introversão 100%. Parei de tentar me encaixar em um modelo que não foi feito pra mim e de me importar com o que as pessoas que não me conhecem pensam do meu jeito. Todos tem defeitos, mas alguns tem qualidades peculiares que só precisam de um pouco de compaixão.

Apesar de tudo, sou uma introvertida de sorte por ter encontrado tantas pessoas compreensivas na vida que eu posso chamar de amigos e com quem posso contar, principalmente para me entender e me dar espaço,  sem deixar de serem presentes.

Eu gostaria que esse tipo de discussão tivesse acontecido quando eu estava crescendo. É muito difícil achar seu lugar no mundo quando ninguém te entende e te faz achar que existe algo de errado com você. Aos introvertidos que estiverem lendo, acreditem que não há nada de errado de ser como são e que existem alternativas para existir nesse mundo que não cala a boca.


that would be me. bye!

about the girl

Pode me chamar de Vy. Balzaquiana com cara de universitária. Turismóloga de formação. Rodinha não só nos pés, mas no coração também. Introvertida. Blogueira old school.

good reads

@ nati n.
@ nicas
@ lari
@ fernanda n.
@ paula b.
@ maria t.
@ gesiane
@ thais h.
@ aline a.
@ chat-feminino
@ viviane
@ lorraine

the past



extras

splash! of colour