E aquilo que o fandom temia aconteceu: Yuzuru Hanyu anunciou aposentadoria das competições.
Praticando e treinando desde seus 4 anos, nascido em 1994, o patinador artístico de Sendai foi campeão da final do Grand Prix Junior e campeão mundial junior antes de debutar no circuito senior na temporada 2010-2011.
Na mesma temporada, às vésperas do mundial que seria sediado no Japão, o país sofreu o terremoto/maremoto mais devastador da história, que deixou Yuzu sem base de treino. Ainda competiu mais uma temporada baseado no Japão, e no fim da temporada 2011-2012, decidiu se mudar para o Canada a fim de treinar em Toronto, no mesmo clube em que seu rival e ídolo, o espanhol Javier Fernades, treinava e aperfeiçoava os poderosos saltos quádruplos.
Batendo o favorito, o canadense Patrick Chan, Yuzu vence sua primeira olimpíada em Sochi em 2014, e logo após vence seu primeiro mundial como senior. Seu segundo mundial vem na pré temporada olímpica seguinte, em 2017, com o que o próprio atleta descreve como "a apresentação que mais lhe representa". Após um programa curto desastroso, que o classifica em quinto lugar, dá tudo de si em um programa livre excepcional e emocionante para levar o título daquele ano.
Na temporada seguinte ia tudo bem, quando em um treino para sua segunda etapa no GP Yuzu se machuca e rompe um ligamento, que o tiraria do gelo por 2 meses, em plena temporada olímpica. Ainda assim, devido aos seus resultados a federação japonesa o nomeia para a competição, para a qual só volta a treinar 2 semanas antes de embarcar. Até o momento da apresentação do programa curto da competição individual, o público não sabe qual a sua real condição física, mas ele não desaponta. Com apresentações emocionantes, leva seu segundo ouro, um sonho realizado. Após a competição, revela que esteve treinando e competindo a base de analgésicos pois sua contusão ainda não estava completamente curada.
Tanto após seu primeiro ouro quanto o seu segundo, Yuzu faz questão de voltar as suas origens e comemora em carreata a conquista do ouro olímpico na sua cidade natal. Durante toda a carreira ele faz questão de doar parte de seus ganhos à reconstrução da região atingida pelo grande terremoto e participar de eventos que arrecadem dinheiro para apoiar as vítimas.
Yuzu também acumula 4 vitórias em finais de grand prix e uma vitória no campeonato dos 4 continentes, o que o torna o único atleta de sua geração com um super slam (vitória em todos os campeonatos internacionais entre júnior e senior), além de ser hexa campeão nacional, uma lenda do esporte, reverenciado não somente por seus pares, como por seus ídolos e todos aqueles envolvidos no esporte.
Yuzuru Hanyu rompeu barreiras técnicas e artísticas durante sua carreira competitiva, sempre buscando não somente vencer, mas ser capaz de apresentar elementos técnicos da maneira mais bonita possível, independente de como isso se comparasse ao que os demais competidores estivessem fazendo.
Após sua segunda vitória olímpica, Yuzu então busca "a apresentação de Yuzuru Hanyu", aquela que ele julga ser a epítome do que é o Yuzuru patinador artístico. Volta seu foco então para se encontrar e encontrar uma razão para continuar competindo. Decide conquistar o elusivo salto quadruplo axel, considerado o mais difícil dos saltos pois exige meia rotação a mais do que os demais saltos quádruplos. Quando se encontra próximo de estar pronto para apresenta-lo ao público em competição, tem que de afastar novamente por conta de uma contusão no mesmo tornozelo que machucou em 2017. Se retrai até o fim do grand prix e retorna às competições para o nacional japonês, que é o evento a decidir as vagas olímpicas. Apesar de cair na sua tentativa, podemos finalmente testemunhar a evolução de seu axel quádruplo. Como campeão, é automaticamente selecionado para competir em Beijing, onde chega poucos dias antes da competição individual.
Apesar de intensa e dedicada preparação, Yuzu fica fora do pódio após um buraco no gelo atrapalha-lo durante o programa curto e uma nova contusão em seu tornozelo durante o treino na véspera do programa livre. Convidado a se apresentar na gala ao final das olimpíadas, passa seus dias no gelo repassando todos os seus programas competitivos. Não sabíamos, mas aquilo já era uma despedida.
Mesmo sem contas em redes sociais, Yuzuru é um fenômeno nelas. Foi um dos atletas mais comentados durante os jogos em Beijing e rendeu momentos adoráveis compartilhados por muitos, como seu amor por mascotes ou o famoso "princess lift" com o patinador chinês Xinyu Liu, além de fotos com vários de seus competidores no gelo. Mesmo sem ter subido ao pódio, foram tantas solicitações de entrevista após as competições que a federação teve que organizar uma coletiva de imprensa somente para Yuzu, para que os jornalistas pudesses conversar com ele!
O anúncio da coletiva de imprensa agora, em que ele daria uma "declaração importante", mexeu com toda a comunidade. É comum que muitos patinadores artísticos anunciem sua aposentadoria das competições logo após um ciclo olímpico. Yuzu ganhou seu primeiro ouro muito jovem, mas após 2018, muito se especulou se ele sequer chegaria a Beijing. Afinal, aos 27 anos, Yuzuru já é considerado "tiozão" no esporte.
Yuzu se despede das competições com a serenidade de quem provou que é capaz, que é o melhor e o maior vencedor que o esporte já viu.
A notícia foi tão impactante que diversos de seus pares, ídolos, parceiros, postaram e deram declarações a respeito ao longo do dia, e eu gostaria de ressaltar duas delas:
Shoma Uno e Nathan Chen são poucos anos mais novos que Yuzu. Shoma, como seu compatriota, competiu diretamente com Yuzu desde muito jovens e subiram juntos em muitos pódios, inclusive o olímpico. Nathan sempre foi anunciado como uma potencia de uma nova geração que apontava como uma revolução atlética num esporte que sempre foi conhecido por sua delicadeza balética. Dentro e fora do Japão eles sempre foram grandes rivais de Yuzu no gelo e nenhuma reportagem e entrevista que fizessem passava sem a menção a Yuzu de uma forma ou outra. E ainda assim, em nenhum momento de uma carreira tão extensa, eles jamais foram menos do que graciosos e gratos a Yuzu.
Nathan desejou o melhor para Yuzu em sua nova fase e agradeceu pelo privilégio de ter competido na mesma era. Em todas as coletivas que participaram juntos, Nathan sempre foi só elogios a Yuzu, numa demonstração de espírito esportivo visto poucas vezes na história.
Já Shoma divulgou uma nota carinhosa agradecendo não só pelos anos compartilhados no gelo, mas por todo o apoio e mentoria que Yuzu ofereceu estando dois ciclos olímpicos com Shoma no time Japão. Desejou não só sorte em sua nova fase, mas que a partir de agora eles possam se encontrar como "dois caras normais de 20 e poucos anos".
Esse não é o fim da carreira de Yuzu. Como ele mesmo diz, agora ele será capaz de perseguir novos limites, novas formas, sem as restrições de regras e avaliações de juizes em uma competição. Esperamos que ele participe de muitos shows de gelo daqui para a frente e que continue levando a palavra da patinação artística por onde quer que passe.
Pode me chamar de Vy. Balzaquiana com cara de universitária. Turismóloga de formação.
Rodinha não só nos pés, mas no coração também. Introvertida. Blogueira old school.