Esse mês é mês de gente muito maravilhosa. Mesmo daquelas que não estão mais aqui pra comemorar comigo.
Quando entrei na USP, de lista de espera, precisava logo encontrar um lugar pra morar. E embora eu amasse SP desde sempre, eu não sabia me locomover na cidade. Mas eu tenho muita sorte, claro, porque eu tenho os melhores amigos do mundo. E um deles me apresentou pra uma colega de classe que procurava alguém pra fechar o apartamento em que estava com a irmã e uma amiga da irmã.
A primeira vez que vi a Bia foi quase de relance. Cheguei com a irmã dela no apartamento e ela estava de saída, bem apressada, e tudo o que lembro é que ela tinha deixado um suco pra gente.
A Bia era assim, meio estabanada, mas muito atenciosa. Vivia de dieta, que durava umas 8h numa segunda-feira. Tinha que comer o pacote de Bono até ver o fim. E quando batia a culpa, ela dividia a barra de chocolate em quadradinhos e fazia a gente comer com ela.
Ela tinha aula a tarde na FFLCH e sempre tentava chegar de manhã pra estudar. Eu vi o despertador dela tocar muitas manhãs. Também vi ela levantar, desligar, e voltar a dormir, muitas e muitas vezes. E depois, no meio do dia, acordar se sentindo culpada porque tinha deixado um amigo esperando na biblioteca.
Como as outras meninas estudavam de manhã, eu passava mais tempo com a Bia em casa, geralmente vendo uma tv de tubo sintonizada mal e mal na MTV. Naquela época internet era discada e um luxo pra estudantes que moravam fora de casa. Muitas noites que eu chegava em casa, ela era a única pessoa acordada pra ver "Os normais" comigo ou rir muito com "The Osbournes".
As nossas vidas tinham muitas coincidências, a maior sendo que ela fazia aniversário 1 semana antes de mim e a irmã, 1 semana antes do meu irmão. Como librianas, a gente não decidia nada. Mas também evitava brigas. E gostava de fazer as coisas só pelo prazer de fazê-las.
Naquele ano a unidade dela entrou numa grande greve que durou muitas semanas, e enquanto nós da ECA saiamos de férias, eles voltavam pras aulas, no meio do verão. E quando a gente é jovem, a gente acha que vai ter todo o tempo do mundo pra fazer tudo que a gente quer fazer, que aulas no verão são um saco sim, mas que passam rápido.
Eu não lembro de ter feito uma grande despedida de nenhuma das meninas naquele fim de ano. Eu com certeza passaria em SP durante as minhas férias e encontraria pelo menos a Bia no apartamento. E no ano seguinte estariamos ali de volta, no mesmo apartamento acarpetado e velho, com a tv velha, sem internet, do lado do campus.
A Bia sempre será jovem, sempre vai ter os 20 anos que a gente não comemorou porque ela estava na casa dos pais naquele 2 de outubro. A gente sequer teve tempo de brigar, mesmo dividindo o quarto, mesmo passando tanto tempo em casa juntas.
Infelizmente ela não estava mais aqui pra comemorar a ascensão das drags, do movimento LGBT, pra sofrer comigo com o Tinder (e me ver dar match naquele coleguinha da FFLCH), pra me dizer o que tinha de certo ou errado com a Lady Gaga e me apresentar pra Haim ou Tegan and Sara. Mas ela me apresentou pra música da sua diva Madonna que faria todo sentido pro pequeno infinito que a vida nos deu juntas.
Cherish the thought of always having you here by my side oh baby I cherish the joy you keep bringing it into my life. I'm always singing it. Cherish the strength you got the power to make me feel good and baby I perish the thought of ever leaving I never would.
Pode me chamar de Vy. Balzaquiana com cara de universitária. Turismóloga de formação.
Rodinha não só nos pés, mas no coração também. Introvertida. Blogueira old school.