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segunda-feira, 27 de julho de 2015 at 10:30
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ano sabático e o voluntariado

Acho que nunca entrei em detalhes aqui sobre essa fase da minha vida. A gente lê por ai sobre um monte de gente que cansou da vida e resolveu tirar umas férias indeterminadas mas nunca de fato conhece uma, nunca é uma pessoa próxima. Porém isso não pode impedir de ir lá e ser a primeira do grupo, né?

Eu já estava de saco cheio do mundo do turismo há um tempo. Um campo ingrato que exige muita formação, com salários de chorar e nada de reconhecimento. E pra piorar, apesar de eu não estar no atendimento direto, fazia parte de vendas  (back office) e só tomava na cabeça. Já tava querendo dar um tempo de tudo e inclusive me planejando pra isso quando a crise veio e, combinado com o fato da gerente da área não ir com a minha cara (quem me levou pra lá foi o dono), levei o corte.

Foi alguns meses mais cedo do que eu estava me preparando, mas no fim foi até melhor. Já estava desmotivada e com a demissão, recebi as multas, fgts e seguro desemprego.

O seguro não é grandes coisas, mas eu também não tenho grandes contas fixas. O segredo é sempre estar preparado. Eu tinha um dinheiro guardado, que é o dinheiro que eu sempre separo do salário, geralmente pensando em uma viagem, mas que pode ser pra qualquer outra emergência, claro. E o fgts. Não sai gastando porque de repente tinha esse dinheiro "sobrando". Guardei pensando que seria melhor gasto quando tivesse um plano.

O único problema é que eu não estava preparada psicologicamente para ter tanto tempo livre pra mim. Eu geralmente planejo muito na minha mente o que vou fazer, como eu vou fazer, quais os resultados eu quero alcançar, mesmo que nada saia conforme o esperado. Eu fico perdida sem esse planejamento.

Fiquei sim um tempo perdida sem saber o que fazer, com mil coisas passando pela cabeça mas sem nada que me prendesse.

Acho que essa coisa de retorno de Saturno e crise dos 30 é um fatão da minha geração, é a nossa crise de meia idade. Somos uma geração atrasada, na verdade. Passamos pelas etapas nas idades certas, mas sem maturidade nenhuma. Ainda somos adolescentes quando nos formamos na faculdade, não temos maturidade nem experiência pra avaliar o que fazer com a oportunidade de escolher um emprego, uma profissão e uma carreira e muito menos para perceber que estamos fazendo escolhas das quais nos arrependeremos no futuro. E um tempo depois, quando a poeira baixa e nos acostumamos a vida adulta, entramos em parafuso nos perguntando o que fizemos das nossas vidas, desesperados para procurar fazer a coisa certa. Somos a camada predominante da população e é por isso que parece que de repente todo mundo está em crise e largando tudo pra trás. E em parte é isso que acabou me motivando a fazer o mesmo. Como muita gente da minha idade está passando por crises e tendo culhões para fazer mudanças na vida deles, isso me mostrou que eu não estou velha como eu pensava para fazer o mesmo.

Uma das questões que começou a me incomodar muito foi o fato de que eu sentia que não estava fazendo nada de significativo pro mundo com minha profissão. Comecei a questionar qual o sentido da vida e qual minha missão, o que eu deixaria pro mundo (já adianto que não tem nada a ver com a -falta de- vontade de ter filhos) e comecei a pesquisar como eu poderia ajudar o mundo.
Foi ai que, numa conversa de bar, um amigo que também estava de saco cheio da vida me contou sobre aquilo que está prestes a mudar nossas vidas.

Camp hill é uma filosofia de ajuda holística a crianças e jovens com necessidades especiais de diversos níveis. É um trabalho de socialização e inserção dessas pessoas de maneira completa e sensível. Existem instituições camp hill espalhadas pelo mundo.

Meu amigo tem amigos no camp hill da Inglaterra que cuida de crianças de 6 a 19 anos e fizeram a "propaganda" do lugar, contando do esquema do voluntariado.

Funciona assim: você entra em contato com eles demonstrando interesse em se candidatar a uma vaga de voluntariado, eles pedem para responder um formulário e fazem uma entrevista via Skype com o RH. Eles perguntam de tudo, como uma entrevista de emprego. Perguntam o que você faz, como conheceu o camp, se está ciente de que é um trabalho que também exige físico (ao contrário do que estamos acostumados, não é ficar sentado o tempo todo na frente do computador) e muito contato com os alunos e se acha que suas experiências de vida podem ajudar no dia a dia do voluntariado. Não é necessário ter inglês fluente, precisa conseguir se comunicar (se virar) no dia a dia e não precisa ter experiência em cuidados com pessoas com necessidades especiais, mas é preciso ter vontade de aprender e ajudar o próximo, de se comprometer e não deixar a peteca cair.

No formulário eles pedem 2 contatos para referências e depois do resultado (positivo) eles entram em contato com essas pessoas para pedir mais informações sobre você. Nessa fase também pedem um atestado de antecedentes criminais que pode ser aquele eletrônico.

Eu não achei a entrevista particularmente difícil, mas geralmente me saio bem nelas, não preciso de ensaio. Não é responsabilidade dos entrevistadores avaliar o nível do seu inglês, mas se você não conseguir interagir com essas pessoas, o que dirá do dia a dia com os alunos? Os entrevistadores são de diferentes nacionalidades, então o sotaque britânico não é um grande empecilho.

A resposta veio poucos dias depois, falando das referências e logo veio também as instruções para a solicitação do visto (no caso das pessoas sem passaporte europeu). Eu indiquei meu ex RH (que já havia se oferecido para dar referências na época da minha demissão) e uma amiga dos tempos de colégio, com quem fiz um trabalho para a opus dei back in the day.

Tirar visto é sempre chato. E nesse caso tinha que descobrir na unha todo o tipo de informação. Começa pelo fato do site da imigração do Reino Unido ter muita informação e não ser muito claro que caminho você tem que tomar para tirar dúvidas ou para solicitar o visto. Entrei em contato com a embaixada que explicou que os consulados aqui não emitem vistos (wtf?)  e que eu deveria procurar um centro de visto  (tipo o do Canadá). A primeira etapa é toda eletrônica. No caso desse voluntariado eu deveria solicitar um visto Tier 5 de trabalho voluntário. Como vou passar 1 ano, antes de tudo deveria pagar uma taxa de "seguro saúde" de 200 libras (sem isso não tem como prosseguir) e preencher o formulário.

No caso desse camp, eles providenciam moradia e alimentação durante o voluntariado, então para a solicitação de visto eu não precisei provar nenhum tipo de fundo financeiro (durante o período eles pagam 35 libras por semana para "gastos pessoais" como compra de produtos de higiene).

Feito os procedimentos online e pago as taxas (mais uns US$ 300) você pode agendar um dia para a entrega desses documentos  (formulários e a carta de patrocínio que a instituição deve providenciar - pode ser a cópia que enviam por email) e fazer o cadastro biométrico. Ai o passaporte e os documentos são enviados  (no caso do Brasil) para Bogotá onde será avaliado. Todas as etapas são informadas por email  (desde a chegada do passaporte no consulado colombiano até o despacho final para o Brasil e a data em que deve ser retirado) mas o resultado você só fica sabendo quando retira o passaporte  (ou recebe via sedex).

Confesso que sempre fico tensa sobre os resultados pois sabemos que mesmo que não tenhamos nada contra nosso nome, os consulados podem negar um visto só porque eles tem esse poder... Não é pessoal, é roleta russa mesmo  (para quem não "deve" nada).

Com toda a burocracia resolvida, ainda falta comprar a passagem, que deve ter validade de 1 ano. Não adianta pegar essas de promoção online que não permitem marcar a volta pra mais de 3 meses depois do embarque. Elas são baratas exatamente porque valem por menos tempo. Eu escolhi cotar com uma empresa especializada em intercâmbio pois estão acostumados com esse tipo de passagem e então tem acesso a uma gama maior de opções. Como sempre, é bom planejar viagem com "margem de erro" e estou cotando a chegada com 1 dia de antecedência do dia que devo me apresentar no camp.

Além disso, tenho que organizar minha vida no Brasil para essa ausência de 1 ano. O que significa empacotar minhas coisas que estão em São Paulo e levar de volta para a casa da minha mãe no interior. Trabalho nada fácil, uma vez que minha vida acontecia principalmente em SP nos últimos 5 anos (ir pra "casa" era só a passeio) e eu tenho a mania de acumular coisas (um monte de sapatos, de bichos de pelúcia, de toy art, etc)...

Sem contar, claro, de me despedir dos amigos. Já marquei uma data, e claro que que tem gente que não vai poder ir e eu terei que encontrar em outras datas.

"Deixar as coisas pra trás" não é uma decisão simples nem covarde. Exige desprendimento e coragem para sair da zona de conforto, pra se aventurar no novo e desconhecido e principalmente pra deixar de conviver com quem a gente mais ama. E pra mim, de tudo, o que vou mais sentir falta vai ser de poder encontrar com meus amigos quando dá na telha, ou ver minha mãe a cada 15 dias, ou passar o fim de semana com a Brisa...

(to be continued... for sure!)

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that would be me. bye!

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Pode me chamar de Vy. Balzaquiana com cara de universitária. Turismóloga de formação. Rodinha não só nos pés, mas no coração também. Introvertida. Blogueira old school.

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